terça-feira, abril 19, 2022

Casulo'




De todos os olhos; os teus.

De todos males; os meus.

Naquele dia tu descobriu o que já sabia, 

Engoliu sem boca, e digeriu sem estômago algo que não comeria. 

Aquela ida ficou pra sempre sem data, mas nós não esquecemos. 

De todas as flores; as tuas. 

De todos os temores; os meus. 

Naquela manhã tu me deu o que não podia,

Urrou sem voz, e segurou sem mãos uma filha que nunca mais veria.

Aquele choro nos molha até hoje, mas nós não nos afogamos. 

De todos os corações; o teu. 

De todas as culpas; a minha.

Nessa vida tu fez o que não conseguia,

Levantou sem corpo, e lutou sem armadura uma guerra que não perderia. 

De todas as colchas de cetim verde; a tua cama. 

De todos os cheiros alvejados; os teus dedos.

A única coisa que tu não me dá, é o que tu também pediria…

De todos os abrigos; o teu útero. 

De todas as verdades; essa: 

Tu também voltaria. 

Já sigo. 


[Suelen de Miranda]

*Precisei ouvir algo além que meu próprio choro. Usei das mesmas músicas. Mas nada é como era, e eu não sou mais nada.
Pudera eu; fazer o manacá florescer todo dia em todas as árvores do planeta, mãe.  Pudera eu. 
Escrevo.
Eu te amo.


sábado, dezembro 18, 2021

Retina'



A vida é um quarto.

É possível abrir a porta ou pular a janela;

Escolher uma das duas formas de ir embora.

Decida. 

Faça sua própria cama ou saia e vá jantar. 

A vida é um quarto.

É possível se esconder ou se despir;

Decidir uma das duas formas de ficar para trás.

Escolha.

Dobre suas próprias roupas ou saia e vá tirar o lixo.

A vida é um quarto.

É possível referir ao tempo ou espaço;

Entenda. 

Faça alguma coisa ou saia do caminho.

A vida pode ser um quarto escuro…

E um quarto do que se vive é morrer.

Vejo.

Meus olhos acabaram por se acostumar, 

Pois quebro cada lâmpada que tento trocar.


[Suelen de Miranda]


*O próximo dia é quem me trará a resposta. Sempre o próximo dia. Tudo passa pra quem corre, porém o que não te explicam é como tudo que somos também passa. Tic tac. Acorda, trabalha, come, dorme. Come, dorme, come, acorda, trabalha, come, dorme quando consegue, trabalha, trabalha, come, dorme, acorda.

Onde estão meus fragmentos? Estão aqui ainda? E eles funcionam? 

Como?

Como.

It's not that okay not to be okay.

Aguenta.


sábado, agosto 14, 2021

Réstia'

 


Grito em boca fechada. 

Tu e eu hoje não formando nós;

Todas as voltas que demos, eu fiz arrebentar. 

Há quando dissemos que nada iria mudar, 

Mas como todas as nossas idas foram feitas para voltar…

Te espero em cada destino.

Choro em olhos cerrados.

Eu e tu hoje não deixando sós;

Todas as palavras que trocamos, tu fez desaguar.

Há quando dissemos que tudo iria acabar, 

Mas como todas as nossas chegadas foram feitas para mostrar…

Te sigo em cada caminho. 

Sinto em peito aberto.

Tu e eu hoje não dividindo pós;

Tudo que fomos, tentamos deixar. 

Há quando chegaremos ao fim pra começar,

Mas como todo o amor foi feito pra amar…

Te beijo em cada pedaço,

Te abraço em cada embaraço.

Contigo sou mais que humana, e sou menos que nada.

Só tenho voz na tua boca, e só tenho lágrimas nos teus olhos.

Ata.



[Suelen de Miranda]



*Se tivesse uma música hoje seria a última que te dediquei lá. Mas não teve. Teve só vão entre meu corpo e a parede, e entre a parede e o mundo todo de lonjura.

Tem dia que eu não sei respirar, sobreviver como quem existe e isso me estraga. Tem um ditado que fala algo sobre maçã podre. Não lembro do ditado, mas não esqueço que eu sempre fui a maçã.

Tu sabe onde eu moro porque mora comigo. Quando sairmos daqui, te encontro no outro poço. Tem espaço pra preencher. Enche. Tem vontade de manter. Reforma.


terça-feira, junho 15, 2021

Muda'

 



De todas as coisas que são minhas;

Do que pode ir e nunca voltar.

A partir de hoje espalmo ambas as mãos,

A partir daqui se tiver de seguir. 

A chave é minha e de ninguém mais. 

O azul é meu e de ninguém mais. 

De todos os todos que são meus;

Do que deve ficar e nunca faltar.

A partir de hoje envolvo ambos os braços,

A partir daqui se houver de permitir. 

As sete horas são minhas e de ninguém mais. 

Os hiatos são meus de ninguém mais. 

De todas as coisas que são minhas;

Do que tenho que ser e nunca mudar. 

A partir de hoje cruzo ambos os pés,

A partir daqui se precisar sair. 

O passado é meu e de ninguém mais. 

O futuro é meu e de ninguém mais. 

Presente nunca foi só de quem ganha,

Então nunca vai ser só de quem dá. 

Candeia. 



[Suelen de Miranda]




*Sem música. Ultimamente eu não sei quem são minhas músicas. Ultimamente eu não sei quem eu sou. Todo dia me procuro um pouco, todo dia me perco um pouco de mim, e todo dia também me encontro. Tem vezes que me jogo no chão pra servir de passagem e tem vezes que só de caminhar faço nada além de criar tropeços.

Muita coisa mudou aqui... em mim. Parte dessas coisas eu precisava, parte não soube o que fazer e se foi. O que me sobrou é isso. As partes de mim que têm. Porque até minha sobrecarga perfeccionista virou defeito. Porque até meu respeito virou defeito. Porque até minha saudade virou defeito. Defeito de feito. Não sei como ainda estou aqui. É muita dor ela disse sobre uma dor que não é minha. É muita dor. E foi a primeira vez que isso foi falado foi tão cru que sangrou também em mim.

É muita dor.

Não me espere a mesma. Não me espere inteira. Se quiser me esperar...Me espera aqui.


domingo, maio 16, 2021

2m²




Não me deixe cair. 

Todo meu peso é o peso que carrego,

Toda minha forma é a forma como fui feita. 

Tampouco me segure nas mãos;

Estou assim desde o dia que ninguém sabe.

Não me deixe cair.

Todo meu tamanho é o tamanho que tomo,

Todo meu perigo é o perigo que corri.

Tampouco me envolva nos braços;

Sou assim desde o dia que tu não viveu. 

Não me deixe cair…

Me coloca de volta onde me encontrou;

E me deita no chão com o mesmo cuidado.

Não me deixe cair…

Me devolva ao fundo do buraco que abri.

Contanto que me deixe e consiga sair,

Pode ficar e olhar da beira porque de mim sobrou pouco.

O que era estilhaço, virou pó. 

E o que era eu, tornou-se só.

Desarma.




 [Suelen de Miranda]



*https://www.youtube.com/watch?v=JQSUDAL0iYE
Ultimamente assinar esses textos tem feito sentido nenhum. Se há o que sentir é que não deveria. 
O mundo não conhece um mundo sem mim. De todos os sorrisos que abri em outras bocas, ou de todas as lágrimas que eu sequei... Qualquer outro poderia ter feito melhor.
Não sou eu... Nunca foi eu. De toda a dor sobreposta, da morte de quem não pertencia morrer à vida de quem nunca deveria ter nascido. Se existe um porque... Se existe um deus ou qualquer coisa... Eu não lembro de muita coisa, mas me lembraria de ter consentido. 
É quase engraçado. Ele está lá. Roupas bonitas, profissão e batimentos cardíacos. Vida, respiro, riso e talvez até amor.  Ele está lá. Virgindade e futuro, tanto faz. 
Sabe... minhas pilhas estão acabando... não deveria fazer diferença já que eu não conheci outra vida. 
Não.
Desculpa.